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Dvar Torah 5ª Parashat: Chayê Sarah (5786)


Dvar Torah דבר תורה
(Palavra de Torá)

5ª Parashat Chayê Sarah (09 de nov. - 15 de nov.)

Escrito por: Mateus Corrêa 

חַיֵּי שָׂרָה (A Vida de Sarah)

Gênesis/ Bereshit 23:1-25:18

" E foram os anos da vida de Sarah: cento e vinte sete anos; estes foram os anos da vida de Sarah

1ª Aliyah (Domingo): Bereshit/ Gênesis 23:1-16

2ª Aliyah (Segunda-feira): Bereshit/Gênesis 23:17-24:9

3ª Aliyah (Terça-feira): Bereshit/Gênesis 24:10-26

4ªAliyah (Quarta-feira): Bereshit/Gênesis 24:27-52

5ª Aliyah (Quinta-feira): Bereshit/Gênesis 24:53-67

6ª Aliyah (Sexta-feira): Bereshit/Gênesis 25:1-11

7ª Aliyah (Sábado): Bereshit/Gênesis 25:12-18


Haftarah (Os Profetas)

1Reis 1:1-31

 

Brit Chadashá (Novo Testamento)

Hebreus 11:13-16

Mateus 8:19-22

Comentários:

 ב''ה


Chayê Sarah: A Morte e o Legado da Matriarca

Parashat 

🌸 O Crepúsculo de Sarah: A Morte e o Legado da Matriarca

(Bereshit 23:1–20)

A Parashá Chayê Sarah, “A Vida de Sarah”, começa, paradoxalmente, com a sua morte. Esse contraste é deliberado: a Torá quer nos ensinar que a verdadeira vida de uma pessoa justa não termina com o último suspiro, mas continua nos frutos que ela deixou. Sarah viveu 127 anos, e cada década, cada ano e cada dia, como explica Rashi, foi pleno de sentido, pureza e propósito.

🕊️ A Dor do Justo e a Dignidade da Fé

Avraham chora. Aquele que enfrentou reis e desertos, que intercedeu diante de D’us pelo destino de Sodoma, agora se curva diante da perda de sua esposa. Mas sua dor é serena. Ele chora, mas logo se levanta. Não há desespero, há honra. Ele não busca um túmulo qualquer, busca uma herança eterna.
Ao comprar a Caverna de Macpelá, em Chevron, Avraham não apenas sepulta Sarah; ele planta sua fé na terra da promessa. Pela primeira vez, ele adquire legalmente um pedaço da Terra de Canaã, não por conquista, mas por pacto e perseverança.

🌾 A Caverna de Macpelá: O Altar da Esperança

O local que Avraham escolhe é antigo, misterioso. A tradição judaica ensina que ali estavam enterrados Adam e Chavá, os primeiros seres humanos. Assim, Sarah é sepultada no mesmo solo onde começou a humanidade, como se a primeira mãe e a primeira matriarca se reencontrassem no pó da redenção.
A Caverna de Macpelá se torna o símbolo da aliança entre o pó e a promessa, um lembrete de que a morte não é o fim, mas o início da eternidade para os que vivem pela fé.

🪶 A Propriedade da Promessa

A negociação com Efron, o hitita, é longa e cerimonial. Ele oferece a terra “de graça”, mas Avraham recusa. Fé não aceita favores; ela honra seus compromissos. Avraham paga 400 moedas de prata, valor elevado, para que não reste dúvida: aquela terra é dele, concedida e confirmada por D’us, mas adquirida com esforço e justiça.
Assim, o patriarca sela um ato de fé concreta, transforma luto em legado, perda em posse, dor em promessa cumprida.

🌅 A Morte que Ensina a Viver

A Parashá começa com a morte de Sarah, mas carrega em seu nome, “Chayê Sarah”, “A vida de Sarah”, o eco de uma verdade eterna: os justos continuam vivos através de suas obras e dos caminhos que abriram para os que vêm depois.
Sarah vive em cada gesto de fé de Avraham, em cada oração de Yitschaq, em cada ato de hospitalidade de Rivka.
A mulher que riu diante do impossível agora repousa na terra prometida, como testemunha de que quem confia no Eterno nunca perde sua morada.

Lição espiritual

A morte de Sarah não marca o fim de uma história, mas o início da herança espiritual de Israel.
Quem vive para o Eterno não deixa um túmulo, deixa uma tenda aberta, uma terra comprada pela fé e uma linhagem que continua dizendo:

“Mesmo diante da morte, D’us é fiel às Suas promessas.”

💍 O Juramento e o Poço: O Encontro de Rivka e a Fidelidade de D’us
(Bereshit 24:1–27)

Com a morte de Sarah, o mundo de Avraham muda. O patriarca, agora idoso, sabe que sua missão não terminou, a promessa divina precisa continuar por meio de Yitschaq, o filho do riso e da fé. Mas há um problema: Yitschaq ainda não tem esposa.
Assim começa uma das narrativas mais belas e simbólicas da Torá, o envio do servo de Avraham para encontrar a mulher escolhida por D’us.


🕯️ O Juramento do Servo

Avraham chama seu servo mais confiável, segundo a tradição, Eli’ezer de Damasco, e o faz jurar, colocando a mão sob sua coxa, gesto que simboliza o pacto sagrado firmado sob o sinal da aliança.
Ele o envia à sua terra natal, Aram-Naharaim, com uma missão delicada: buscar uma esposa para Yitschaq entre seus parentes, e não entre os cananeus.

Avraham confia, não na astúcia humana, mas na providência divina. Ele diz ao servo:

“O anjo do Eterno te precederá.” (Bereshit 24:7)

A fé de Avraham, que um dia o fez sair de Ur, agora o faz enviar outro em seu lugar, com a mesma confiança de que o caminho será guiado pelo Céu.


💧 O Poço da Escolha

Eli’ezer chega ao poço ao entardecer, o momento em que as mulheres saem para tirar água, o mesmo cenário onde tantas histórias de destino se desenrolam na Torá.
Mas ele não confia no acaso; ele ora.

“Eis que estou junto à fonte de água... seja que a moça a quem eu disser: ‘Inclina, peço-te, o teu cântaro, para que eu beba’, e ela responder: ‘Bebe, e também darei de beber aos teus camelos’, seja essa a que designaste para teu servo Yitschaq.” (24:12–14)

Não se trata apenas de um pedido prático; é um teste de caráter. Ele busca uma mulher que una bondade e prontidão, a marca dos verdadeiros filhos da promessa.


🌿 Rivka: O Coração que Serve

Antes que ele termine a oração, Rivka aparece. Jovem, pura e decidida.
Sem saber quem ele é, ela faz exatamente o que o servo pedira a D’us: oferece água a ele e, sem hesitar, corre para tirar água para os camelos, uma tarefa cansativa e generosa.
É assim que a Torá define grandeza: não por palavras, mas por serviço.

Eli’ezer se maravilha. Ele vê em silêncio, sem interromper o gesto, e compreende, D’us respondeu antes mesmo que ele terminasse de falar.
O servo então se prostra e adora, dizendo:

“Bendito seja o Eterno, D’us de meu senhor Avraham, que não retirou Sua bondade e Sua verdade do meu senhor.” (24:27)


O Poço como Lugar de Encontros Divinos

O poço é mais do que um cenário; é um símbolo da providência.
Ali o Céu e a terra se encontram, a oração e a resposta se tocam, o homem e a mulher destinados se cruzam.
Em toda a Torá, o poço será o ponto de encontro dos que têm sede, sede de água, de amor, de missão, de promessa.


🌸 Lição Espiritual

Rivka não é escolhida por beleza, nem por status, mas por bondade e prontidão em servir, virtudes que espelham a fé viva de Avraham.
O servo não confia em sorte, mas em oração.
E Avraham, mesmo envelhecido, continua crendo que o Eterno providencia tudo em seu tempo.

Quando a fé se move com humildade, D’us prepara os encontros que transformam a história.


💞 A Escolha e o Véu: O Pedido e o Encontro de Rivka e Yitschaq
(Bereshit 24:28–67)

O servo de Avraham havia orado em silêncio junto ao poço, e a resposta de D’us veio correndo em forma de mulher. Rivka não era apenas bela, mas carregava em seus gestos a mesma chama de fé que outrora brilhara na tenda de Sarah.
Agora, o servo precisa cumprir o restante da missão: apresentar a história, pedir a mão da moça e conduzi-la ao filho da promessa.


🕯️ O Pedido de Casamento e o Testemunho do Céu

Rivka corre para casa e conta o que aconteceu. Seu irmão Labão, ao ver as joias que o servo lhe dera, vai ao encontro do visitante e o acolhe com hospitalidade.
Durante o jantar, o servo de Avraham, identificado pela tradição como Eli’ezer, recusa-se a comer antes de contar o motivo de sua viagem.

Com reverência e exatidão, ele narra tudo:

  • a velhice de Avraham,

  • o juramento de buscar uma esposa entre seus parentes,

  • a oração feita junto ao poço,

  • e como Rivka cumpriu exatamente o sinal pedido ao Eterno.

Ele termina dizendo:

“Agora, se quiserdes usar de bondade e de verdade para com meu senhor, declarai-mo; e se não, dizei-mo também, para que eu vá à direita ou à esquerda.” (Bereshit 24:49)

É um momento solene: o servo não está apenas pedindo a mão de Rivka, está testemunhando a mão de D’us em toda a jornada.


🌿 A Família que Reconhece o Propósito Divino

Labão e Betuel respondem com uma frase que sela o destino:

“Do Eterno procede este negócio; nada podemos dizer contra ou a favor.” (24:50)

Eles reconhecem que aquilo não é coincidência, mas providência.
O servo adora o Eterno em gratidão, e entrega joias, presentes e roupas preciosas a Rivka e sua família,  não como pagamento, mas como sinal de honra e bênção.

No dia seguinte, quando o servo pede para partir, a família hesita. Querem que Rivka fique mais alguns dias.
Mas a decisão é colocada nas mãos dela, um gesto raro para a época:

“Chamemos a moça e perguntemos a ela.” (24:57)
E Rivka responde com coragem e simplicidade:
“Irei.” (24:58)

Essas duas palavras ecoam o mesmo espírito do “Lech Lechá” de Avraham, “Vai-te”.
Como ele, ela também deixa tudo para trás por causa de uma promessa.


💍 O Encontro de Rivka e Yitschaq

Ao entardecer, Yitschaq sai ao campo para meditar e orar, é o primeiro relato de um homem orando sozinho na Torá.
O sol está se pondo, e ao longe ele vê os camelos se aproximando.
Rivka, ao avistá-lo, desce do camelo e pergunta:

“Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro?”
O servo responde:
“É o meu senhor.”

Então ela toma o véu e se cobre, sinal de modéstia, respeito e santidade.

Eli’ezer conta a Yitschaq tudo o que D’us fizera, e o texto encerra dizendo:

“Yitschaq levou Rivka para a tenda de Sarah, sua mãe, e tomou-a por mulher; e ele a amou. Assim Yitschaq foi consolado depois da morte de sua mãe.” (24:67)


A Tenda Restaurada

A tenda de Sarah, que havia se fechado com sua morte, volta a se iluminar.
As tradições judaicas ensinam que três milagres marcavam a tenda de Sarah:

  1. Uma luz que permanecia acesa do Shabat ao Shabat;

  2. Uma bênção no pão, o alimento nunca faltava;

  3. Uma nuvem de glória que repousava sobre ela.

Quando Rivka entra, dizem os sábios, esses sinais retornam.
O Espírito que havia se ausentado com a morte de Sarah agora volta a habitar na nova matriarca, o ciclo da promessa continua.


🌿 O Crepúsculo de um Patriarca: Os Últimos Dias de Avraham e o Casamento com Quetura


(Bereshit 25:1–11)

Depois das promessas, das alianças e das lágrimas, a Torá abre um novo capítulo inesperado: Avraham volta a se casar.
A narrativa é breve, mas carrega profundidade. O patriarca, já idoso e experimentado pela fé, une-se a uma mulher chamada Quetura, cujo nome vem da raiz ketoret, “incenso”, símbolo de algo puro, perfumado e que sobe ao alto.

Os sábios do Midrash afirmam que Quetura é a própria Hagar, retornando arrependida e restaurada à casa de Avraham. Seu novo nome marcaria uma nova vida: o passado queimado no altar da reconciliação, subindo agora como aroma agradável diante do Eterno.


🕊️ O Fruto da Segunda União

Dessa nova fase nascem seis filhos: Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Suá.
Eles formariam povos e tribos ao leste de Canaã, muitos dos quais voltariam a cruzar os caminhos de Israel no futuro. Entre eles, destaca-se Midiã, de onde viria Yitró, o sogro de Moshê, mostrando que até nas ramificações distantes, o legado de Avraham continuaria a ecoar.

Mas o texto é cuidadoso em reafirmar a distinção entre esses descendentes e o filho da promessa:

“Avraham deu tudo o que possuía a Yitschaq.” (Bereshit 25:5)

A herança espiritual não está nos bens, mas na aliança. Os filhos de Quetura recebem presentes e são enviados “para o oriente”, enquanto Yitschaq permanece em Canaã, guardando o centro da promessa.


🔥 A Maturidade da Fé

Esse gesto de Avraham é mais do que prudência familiar; é discernimento espiritual.
Ele sabe que o propósito de D’us é específico, não difuso. A bênção universal viria através de Yitschaq, e o patriarca, em sua velhice, age com a serenidade de quem compreende o plano divino sem resistência.

O homem que um dia chorou ao despedir-se de Ismael agora sabe entregar e confiar.
A fé amadureceu. O mesmo Avraham que ofereceu o filho no monte Moriá agora oferece seus últimos anos como testemunho de submissão e paz.


🌅 O Descanso do Justo

“E Avraham expirou, morrendo em boa velhice, idoso e farto de dias, e foi reunido ao seu povo.” (25:8)

As Escrituras descrevem sua morte com uma ternura rara, farto de dias, expressão que significa plenitude de vida, não cansaço.
Avraham cumpriu sua jornada: deixou Ur, creu contra toda esperança, caminhou por fé, e agora descansa.

Yitschaq e Ismael, juntos, o sepultam na caverna de Macpelá, o mesmo túmulo que ele havia comprado para Sarah.
A reconciliação final se cumpre ali, diante da eternidade: os filhos separados pela história se unem para honrar o pai da promessa.


Haftará

A Haftará de Chayê Sarah: A Transmissão do Reino e da Promessa
(1 Reis 1:1–31)

Assim como a Parashat Chayê Sarah encerra a vida de Avraham e prepara o caminho para Yitschaq, a Haftará desta semana apresenta o fim da vida do rei Davi e a preparação da sucessão real por meio de Shlomô (Salomão).
Ambas as narrativas tratam do mesmo tema: o encerramento de um ciclo de fé e o nascimento de uma nova geração de liderança, a passagem da promessa.


🕯️ O Rei Envelhecido e o Silêncio do Trono

O texto começa descrevendo Davi em sua velhice: o guerreiro que derrotou Golias agora está fraco, tremendo de frio, incapaz de aquecer-se.
É um retrato da fragilidade humana, lembrando que até os grandes heróis de D’us têm seu crepúsculo.
Para cuidar dele, é escolhida Avishag, a sunamita, uma jovem de beleza notável que o serve e o aquece, mas “o rei não a conheceu”. A pureza desse detalhe ressalta a dignidade de Davi mesmo em sua decadência.

Enquanto o corpo do rei enfraquece, a luta pelo poder desperta: Adonias, seu filho, tenta tomar o trono antes da hora.
Ele reúne carros, cavaleiros e cinquenta homens para correr diante dele, uma clara tentativa de coroação sem o consentimento do rei nem de D’us.
Assim como Ismael e Yitschaq, Esaú e Yaakov, aqui também a herança divina é disputada entre irmãos.


⚖️ A Intervenção de Bat-Sheva e o Profeta Natã

No meio da conspiração, Bat-Sheva (Bate-Seba) e o profeta Natã tornam-se instrumentos da providência.
Natã orienta Bat-Sheva a entrar diante do rei e lembrá-lo de sua promessa:

“Meu senhor, ó rei, juraste à tua serva, dizendo: Certamente Salomão, teu filho, reinará depois de mim e se assentará no meu trono.” (1 Reis 1:17)

Bat-Sheva fala com humildade, mas com sabedoria; Natã entra logo depois, confirmando suas palavras.
É um momento de intercessão e discernimento, em que o profeta e a rainha agem juntos para impedir que o plano humano destrua o propósito divino.

A cena ecoa a de Eli’ezer diante da família de Rivka, em Chayê Sarah: ambos intercedem com palavras de verdade, buscando garantir a continuidade da promessa.


👑 A Confirmação do Herdeiro

Davi, mesmo fraco, ainda é o rei segundo o coração de D’us.
Ao ouvir o relato, ele desperta espiritualmente e declara:

“Como vive o Eterno, que redimiu a minha alma de toda angústia, certamente, como te jurei pelo Eterno, o D’us de Israel, dizendo: Teu filho Salomão reinará depois de mim, assim o farei hoje.” (1 Reis 1:29–30)

O velho rei volta a exercer autoridade, a voz do ungido ainda comanda.
A fidelidade de Davi à sua palavra reflete a fidelidade de Avraham à promessa. Ambos, em seus últimos dias, asseguram a continuidade do plano de D’us através do herdeiro escolhido.


🌿 Eco entre a Parashá e a Haftará

Parashá Chayê Sarah Haftará Chayê Sarah
Morte de Sarah e transição para a nova geração Velhice de Davi e transição para Salomão
Avraham garante esposa para Yitschaq Davi garante o trono para Salomão
O servo Eli’ezer age com fidelidade à promessa O profeta Natã e Bat-Sheva agem com fidelidade à promessa
A tenda de Sarah é reaberta com Rivka O trono de Davi é reafirmado com Salomão
O ciclo da fé continua O ciclo da realeza messiânica começa

Ambos os textos tratam da continuidade divina, a certeza de que o Eterno nunca deixa Sua aliança cair no esquecimento, mesmo quando os patriarcas e reis partem deste mundo.


Brit Chadashá 

A Brit Chadashá de Chayê Sarah: Peregrinos da Promessa e o Chamado do Seguimento
(Hebreus 11:13–16; Mateus 8:19–22)

A Parashat Chayê Sarah fala sobre transição e herança espiritual, o fim de Sarah, a busca por uma esposa para Yitschaq, e os últimos dias de Avraham.
Na Brit Chadashá, esses mesmos temas são elevados a uma dimensão eterna: a fé que não se limita à terra, e o discipulado que não se prende às raízes deste mundo.


🕯️ Peregrinos da Promessa (Hebreus 11:13–16)

O autor de Hebreus contempla Avraham, Sarah e os patriarcas como estrangeiros e peregrinos sobre a terra:

“Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas vendo-as de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos na terra.” (Hebreus 11:13)

Eles viveram confiando em algo que não podiam ver completamente, uma pátria celeste, uma herança além da geografia de Canaã.
O texto prossegue:

“Porque esperavam uma pátria melhor, isto é, a celestial. Por isso, D’us não se envergonha deles, de ser chamado seu D’us, pois lhes preparou uma cidade.” (v. 16)

Aqui, o autor revela o coração da fé abraâmica: crer no invisível como se já fosse real, e caminhar por uma terra temporária com os olhos fixos na eterna.

Assim como Avraham comprou um túmulo na terra prometida, ele também investiu sua fé em uma promessa ainda mais distante.
O campo de Macpelá tornou-se símbolo disso: a posse visível da esperança invisível.


🌿 O Chamado Radical de Yeshua (Mateus 8:19–22)

Nos Evangelhos, Yeshua ecoa o mesmo espírito peregrino de Avraham.
Um escriba se aproxima e diz:

“Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores.”
E Yeshua lhe responde:
“As raposas têm covis e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.” (Mateus 8:19–20)

A resposta não é um desânimo, mas um chamado à realidade da fé: seguir o Messias é andar sem garantias terrenas, assim como Avraham deixou Ur sem saber para onde iria.

Outro discípulo pede:

“Senhor, permite-me primeiro sepultar meu pai.”
E Yeshua diz:
“Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos.” (v. 21–22)

Essas palavras ecoam a essência da Parashat Chayê Sarah: a morte e o sepultamento não são o fim, a verdadeira vida está em seguir o chamado divino.
Avraham chorou por Sarah, mas depois levantou-se para agir.
Do mesmo modo, Yeshua ensina que a fé não se detém no luto, mas caminha em obediência.


🔥 A Herança dos Peregrinos

A ligação entre a parashá e a Brit Chadashá é profunda:

  • Avraham deixa tudo por uma promessa que ainda não vê.

  • Sarah vive e morre como guardiã dessa fé.

  • Yeshua chama seus discípulos a deixarem tudo, vivendo como peregrinos de um Reino que ainda não se manifesta em plenitude.

Tanto o patriarca quanto o Messias ensinam a mesma lição: a fé verdadeira é desapego, deixar o conforto, a segurança e até o próprio tempo em nome do chamado divino.





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Escrito por: Mateus Corrêa


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