Teshuvá תשובה
Pessach: A Libertação que Moldou um Povo
1. Origem e Significado de Pêssach
Pêssach, a Festa da Libertação, celebrada no dia 14 do mês de Nissan, tem suas raízes na Torah, particularmente no livro de Shemot (Êxodo), onde é relatada a opressão do povo de Israel no Egito. Os descendentes de Yaakov, que haviam se estabelecido na terra de Goshen, foram escravizados por Faraó, que temia seu crescimento numérico. Clamando a Hashem, receberam Moisés como líder e libertador.
A recusa de Faraó em deixar os israelitas partirem resultou nas dez pragas, culminando na morte dos primogênitos egípcios. Naquela noite, os israelitas deveriam marcar suas portas com o sangue do cordeiro pascal (Korban Pêssach), comer matsá e ervas amargas, enquanto o anjo destruidor passava sobre suas casas (Shemot/ Êxodo 12), e assim surge o nome Pêssach (Passar por cima). Esse evento marcou o início da jornada rumo à liberdade.
"O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu o sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito."
A travessia do Mar Vermelho (Yam Suf) foi o ponto culminante da libertação. Perseguidos pelos egípcios, os israelitas viram o mar se abrir diante deles, permitindo-lhes atravessar em terra seca, enquanto seus opressores foram tragados pelas águas (Shemot 14). A libertação física foi acompanhada de uma transformação espiritual, preparando o povo para receber a Torah no Monte Sinai. Pêssach, portanto, não é apenas um evento histórico, mas um símbolo da redenção divina e da aliança entre Hashem e Israel.
Na tradição judaica, Pêssach é celebrado por oito dias (sete em Israel), conforme ordenado na Torah (Vayikrá 23:5-8), e é repleto de significados espirituais. O Sêder de Pêssach, detalhado na Mishná (Pesachim 10), relembra a saída do Egito com a leitura da Hagadá, o consumo da matsá e do maror, e a recitação do Hallel. Além disso, a tradição rabínica ensina que a libertação do Egito prefigura a redenção messiânica futura (Sanhedrin 111a), reforçando a esperança na intervenção divina na história de Israel. Assim, Pêssach continua a ser um pilar central da identidade judaica, celebrando a fidelidade de Hashem e a caminhada rumo à verdadeira redenção.
2. Mandamentos Relacionados a Pêssach
A Torá estabelece diversos mandamentos específicos para a celebração de Pêssach:
1. Comer Matzá (pão sem fermento) durante os sete dias da festa (Êxodo 12:15, 12:18).
2. Remover todo o Chametz (fermento) de casa antes do início da festa (Êxodo 12:15, 12:19-20).
3. Realizar o Séder de Pêssach na primeira noite da festa, contando a história do Êxodo para as futuras gerações (Êxodo 13:8).
4. Não trabalhar no primeiro e no último dia da festa, pois são dias sagrados de descanso (Levítico 23:7-8).
5. Apresentar ofertas no Templo (Deuteronômio 16:16-17, Números 28:16-25 – este mandamento não é cumprido hoje por falta do Templo).
3. Como Celebrar Pêssach Hoje
Para nós, membros da comunidade Beth Bnei Tzion, Pêssach é celebrado como uma recordação da redenção física e espiritual. Os principais elementos incluem:
A Preparação: Remover todo o chametz (fermento) de casa, simbolizando a retirada do pecado de nossas vidas.
Preparar o Séder de Pêssach, a ceia tradicional. O Séder de Pêssach:
Elementos e seus significados:
1. Matzá (Pão Ázimo) – Simboliza a pureza e a rapidez da saída do Egito. Pois não daria tempo de colocar o pão para fermentar, porque teriam que sair depressa.
2. Zeroa (Osso de Cordeiro) – Representa o cordeiro pascal, que foi morto em sacrifício para que os primogênitos de Israel não fossem mortos.
3. Maror (Ervas Amargas) – Simboliza a amargura da escravidão.
4. Charoset (Mistura de Frutas e Mel) – Representa a argamassa usada pelos hebreus no Egito.
5. Karpas (Vegetal Verde) – Simboliza a primavera e a esperança. É mergulhado em água com sal que simboliza as lágrimas derramadas por nosso povo no Egito.
6. Beitzah (Ovo Cozido) – Representa a oferta do Templo e a continuidade da vida.
No Seder de Pessach (Ceia de Páscoa) quatro cálices de vinho (ou suco de uva) são bebidos ao longo da cerimônia. Cada um tem um nome simbólico relacionado com as quatro expressões de redenção usadas por D'us ao libertar os israelitas do Egito, conforme descrito em Êxodo 6:6-7. Aqui estão os nomes e significados:
🍷 1. Cálice da Santificação (Kadesh – קדש)
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Verso correspondente: "Eu vos tirarei de debaixo das cargas do Egito."
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Significado: Representa o começo da libertação e a santificação do povo judeu. Marca o início do Seder.
🍷 2. Cálice do Julgamento (Maggid – מגיד)
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Verso correspondente: "Eu vos livrarei da sua servidão."
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Significado: Simboliza a libertação do jugo da escravidão egípcia. É bebido após contar a história do Êxodo.
🍷 3. Cálice da Redenção (Barech – ברך)
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Verso correspondente: "Eu vos redimirei com braço estendido e com grandes juízos."
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Significado: Representa a redenção espiritual e nacional. É bebido após a refeição, durante a bênção após a comida.
🍷 4. Cálice do Louvor (Hallel – הלל)
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Verso correspondente: "Eu vos tomarei por meu povo, e serei vosso D'us."
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Significado: Celebra a aceitação do povo judeu como o povo de D'us. É bebido após os salmos de louvor.
🍷 5. Cálice de Elias (Kos shel Eliyahu – כוס של אליהו)
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Opcional e simbólico: Não é bebido.
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Significado: Representa a esperança na vinda do profeta Elias e a redenção futura do povo judeu. Fica cheio sobre a mesa.
Etapas do Séder:
1) Kadesh – Recitação do Kidush (santificação) e primeiro copo de vinho.
2) Urchatz – Lavagem das mãos sem bênção.
3) Karpas – Comer ervas mergulhadas em água salgada.
4) Yachatz – Partir a matzá do meio e esconder a parte maior (afikoman).
5) Maggid – Narração da história do Êxodo.
6) Rachtzah – Segunda lavagem das mãos com bênção.
7) Motzi– Fazer uma bênção com as 3 matsot
8) Matzá – Solte a matsá mais abaixo e recite a bênção sobre a matsá quebrada e a de cima.
9) Maror – Comer as ervas amargas.
10) Korech – Sanduíche de matzá e maror.
11) Shulchan Orech – Refeição festiva.
12) Tzafun – Comer o afikoman.
13) Barech – Bênção após a refeição e terceiro copo de vinho. Hallel – Cânticos de louvor e quarto copo de vinho.
14) Nirtzah – Conclusão do Sêder.
4. O Segundo Êxodo e a Redenção Messiânica
As Escrituras falam não apenas do primeiro êxodo do Egito, mas também de um segundo grande livramento, uma futura redenção messiânica, que será ainda maior do que a saída do Egito. Profecias sobre o Segundo Êxodo Jeremias 16:14-15 – "Portanto, eis que vêm dias, diz o Eterno, em que nunca mais se dirá: Vive o SENHOR, que fez subir os filhos de Israel da terra do Egito. Mas: Vive o Eterno, que fez subir os filhos de Israel da terra do Norte e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque eu os farei voltar à sua terra, que dei a seus pais." Isaías 11:11-12 – "Naquele dia, o Eterno tornará a estender a sua mão para resgatar o restante do seu povo (...) E levantará um estandarte para as nações, e ajuntará os desterrados de Israel, e os dispersos de Judá reunirá desde os quatro confins da terra." Essas passagens indicam que o futuro livramento do povo de D'us será ainda mais grandioso que o primeiro êxodo, reunindo Israel de todas as partes do mundo.
5. A Relação entre Pêssach e a Primeira Vinda de Yeshua
Para nós, judeus-adventistas, Pêssach tem um significado ainda mais profundo, pois aponta diretamente para a missão redentora de Yeshua HaMashiach.
Yeshua como o Cordeiro Pascal:
João 1:29
"Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado."
"Enquanto comiam, Yeshua tomou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. E tomando um cálice, e dando graças, deu-lhes, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados."
Yeshua utilizou elementos do Sêder (pão sem fermento e vinho) para ensinar sua missão messiânica, atribuindo um significado mais profundo e espiritual, pois agora é atribuído à festa de pêssach um significado mais profundo e espiritual, simbolizando não somente a liberdade da escravidão do Egito, mas também da libertação da escravidão do pecado.
Mas Pêssach não fala apenas do passado. Ele é sombra de algo maior, um eco que ressoa pelos séculos, apontando para Aquele que viria cumprir essa redenção de forma plena. Pois, assim como os israelitas foram libertos da escravidão do Egito, a humanidade precisava ser liberta da escravidão do pecado. E assim veio o Cordeiro Perfeito, Aquele sem mancha, Aquele que João proclamou:
João 1:29
Yeshua, nossa Pêssach, nossa passagem da morte para a vida. Seu sangue, derramado no madeiro da cruz, assim como o sangue nos umbrais das portas, nos resgata do juízo e nos chama para a aliança eterna com o Pai. Ele não apenas nos livra do castigo, mas nos conduz para a terra prometida de uma nova vida nEle.
Naquela noite de Pêssach, Ele tomou o pão e o partiu. "Este é o meu corpo, dado por vós." Pegou o cálice e o ofereceu. "Este é o meu sangue, a nova aliança." O mesmo cordeiro que foi imolado no Egito agora se manifesta em sua plenitude no Messias.
Pêssach aponta para Yeshua. Ele é nossa libertação. Ele é nossa passagem. Que não celebremos apenas com pães sem fermento e ervas amargas, mas com corações quebrantados e olhos voltados para o Autor da nossa redenção. Pois, assim como nossos pais marcharam para a liberdade, nós também, ainda hoje em Yeshua, caminhamos para a verdadeira Terra Prometida, onde a morte não terá mais domínio e onde celebraremos o Cordeiro por toda a eternidade.







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