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Beth Midrash: Lição 04- As Nações pt.1 (19 de abril. - 25 de abril.)

 

Beth Midrash

בית מדרש

(Casa de Estudo)

Lições e comentários sobre a escola sabatina 

ב''ה

RESUMO: Lição da Escola Sabatina

LIÇÃO 04- As Nações pt.1

19 de abril. de 2025 - 25 de abril. de 2025

Escrito por: Mateus Henrique Corrêa

Verso da semana: "Foi-lhe dado o domínio, a glória e o reino, para que as pessoas de todos os povos, nações e línguas O servissem. O Seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído"  (Daniel 7:14).


Shabbat - Sábado

Daniel 7:14 e a restauração do Reino de D-us sob o domínio de Yeshua Hamashiach

"Foi-Lhe dado o domínio, a glória e o reino, para que as pessoas de todos os povos, nações e línguas O servissem. O Seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o Seu reino jamais será destruído” (Daniel 7:14).

Neste verso, o profeta Daniel nos apresenta uma visão messiânica que, dentro da tradição judaico-adventista, reconhecemos como uma revelação clara sobre Yeshua Hamashiach. O domínio eterno que Lhe é entregue não é fruto de conquista bélica, como os impérios humanos descritos ao longo do livro de Daniel, mas uma autoridade legítima e divina conferida por D-us, o Altíssimo.

O Talmud (Sanhedrin 98a) registra discussões entre os rabinos sobre como o Mashiach virá: “Se eles forem merecedores, Ele virá nas nuvens do céu; se não forem, virá como um homem humilde, montado em um jumento.” Essa tensão entre glória e humildade é lindamente cumprida em Yeshua: Ele veio em humildade, mas retornará em glória, conforme Apocalipse 19:11-16.

A sucessão de reinos humanos descritos em Daniel e também em Apocalipse representa, como diz a Mishná (Avot 4:1), a vaidade da busca pelo poder terreno: “Quem é poderoso? Aquele que domina seu impulso (yetzer).” Os reinos humanos falham justamente porque são construídos sobre o domínio do homem sobre o outro, e não sobre a submissão ao domínio de D-us.


A restauração do acesso à árvore da vida em Apocalipse 22 é uma clara reversão do exílio de Gênesis 3, mostrando que o plano divino nunca foi abandonado, apenas amadurecido no tempo. Rabenu Bahya, comentando Bereshit, ensina que a Shechiná jamais abandonou completamente a humanidade, mesmo após o pecado — apenas se ocultou. O Apocalipse mostra esse retorno da presença de D-us em plenitude.

Yeshua ensinou sobre um reino invertido em relação aos padrões do mundo. Em Matityahu (Mateus) 20:25-28, Ele afirma que no Reino dos Céus o maior é aquele que serve. Isso ressoa com o conceito judaico de avodah, o serviço a D-us e ao próximo, como expressão máxima da nossa espiritualidade.

O clamor de Apocalipse 18:4 — “Sai dela, povo Meu” — é um eco do chamado de Avraham Avinu em Bereshit 12:1: “Vai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei.” Este chamado é contínuo: sair da confusão (Bavel) dos sistemas humanos para entrar na promessa de D-us.

O Talmud Babilônico (Avodah Zarah 2b) reflete que, no fim dos tempos, D-us oferecerá às nações a recompensa por suas ações, e mostrará que somente Israel — aqui entendido não em sentido étnico, mas espiritual (cf. Gálatas 3:29) — manteve fielmente a luz da Torá. A comunidade judaico-adventista é chamada a ser esse Israel fiel, que guarda os mandamentos de D-us e tem o testemunho de Yeshua (Ap 14:12).

Portanto, como comunidade messiânica e adventista, temos diante de nós a missão profética de proclamar que o Reino de D-us está se aproximando. Esse Reino não será fundado em partidos, governos ou ideologias humanas, mas sobre os ombros do Príncipe da Paz (Isaías 9:6), Aquele que recebeu domínio, glória e reino para sempre: Yeshua Hamashiach.

Que vivamos já sob esse Reino eterno, servindo com humildade, aguardando com esperança, e proclamando com ousadia: “Adonai Melekh, Adonai Malakh, Adonai Yimlokh leolam vaed — O Eterno é Rei, foi Rei, e reinará para todo o sempre.”


Yom Rishon - Domingo

"O Caminho de Volta ao Éden: Uma Esperança Messiânica"

O Éden foi mais que um local físico: foi o reflexo perfeito da vontade de D-us para a humanidade. Um jardim de comunhão, paz e harmonia — onde o homem e a mulher viviam em perfeita unidade com o Criador. Mas, ao ceder ao yetzer hará (mau impulso), Adam e Chavá foram afastados da presença manifesta da Shechiná. Como nos ensina Bereshit (Gênesis) 3:24, os querubins e a espada flamejante guardavam o caminho para a Árvore da Vida.

O Talmud (Sotah 14a) nos lembra que D-us, ainda em Sua justiça, é pleno de compaixão: “Como D-us vestiu Adam e Chavá com túnicas de pele, também nós devemos vestir os nus.” Mesmo após a queda, D-us cuidou de Seus filhos. Isso nos mostra que o plano da redenção não começou no Sinai ou em Jerusalém, mas ainda nos portões do Éden.

Rashi, comentando Gênesis 3, observa que a expulsão do jardim não foi apenas um castigo, mas um ato de misericórdia, pois comer da Árvore da Vida em estado de pecado seria perpetuar o mal. O Midrash (Bereshit Rabbah 21:7) também ensina que Adam, após ser expulso, sentava-se diariamente às portas do Éden para oferecer sacrifícios e suplicar por redenção. É aqui que nasce a esperança messiânica — a confiança de que D-us providenciaria um caminho de retorno.

Ellen G. White, ecoando esse pensamento, afirma que os patriarcas voltavam às portas do paraíso para adorar e renovar os votos de obediência. Como nossos sábios ensinaram (Pirkei Avot 2:1), “Considere três coisas e você não cairá em pecado: saiba o que está acima de ti — um olho que vê, um ouvido que escuta, e todas as tuas ações escritas em um livro.” Mesmo fora do Éden, D-us nunca deixou de se relacionar com a humanidade.

A tentativa humana de substituir a autoridade de D-us começou cedo. Ninrode, mencionado em Bereshit 10, é muitas vezes erroneamente visto como um herói. No entanto, os comentaristas judaicos — como o próprio Rashi — interpretam “caçador diante do Eterno” (lifnei Hashem) como alguém que se rebelava contra D-us, “apanhando os corações das pessoas” e afastando-as da submissão ao Criador. Ele não caçava apenas animais, mas caçava almas.

O Targum Yonatan afirma que Ninrode dizia: “Venham, construamos cidades e fortalezas, e faremos guerra contra Ele.” Esse espírito de rebelião ecoa até Apocalipse, onde Babilônia representa o sistema que desafia o reinado de D-us e busca substituir Sua glória por glória humana.

A rebelião contra D-us nem sempre é aberta. Muitas vezes ela se mascara de progresso, civilização ou mesmo religião. Como evitar cair nessa armadilha? A Mishná (Avot 3:1) nos exorta: “Aquele que estuda Torá por amor se torna como uma fonte que jamais seca, como um rio que nunca para.” A Torá nos ancora no Eterno, e em Yeshua encontramos o cumprimento dessa esperança: Ele é o derech (caminho) de volta ao Éden.

Apocalipse 22 mostra que, no fim, a Árvore da Vida será novamente acessível. Não por mérito humano, mas porque o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8) abriu o caminho. Em Yeshua Hamashiach, temos a restauração do que foi perdido. O Éden não é um sonho distante, mas uma promessa certa para aqueles que perseveram na fé e na obediência.

Como judeus que creem em Yeshua e aguardam o Reino vindouro, nossa missão é viver com os olhos no Éden restaurado, mas com os pés firmes na obediência diária — combatendo a rebelião interior, submetendo-nos ao Reinado de D-us e proclamando: “Baruch Haba B’Shem Adonai” — Bendito o que vem em Nome do Eterno!


Yom Sheni - Segunda-Feira

"A Vocação de Avraham e o Propósito de Israel: Ser Luz Entre as Nações"

Bereshit capítulo 10 nos apresenta a genealogia dos povos após o dilúvio — as goyim, ou nações. Essa divisão da humanidade em línguas, terras e famílias revela um novo estágio na história do mundo, e o foco muda do coletivo para o indivíduo, pois logo em seguida, no capítulo 12, D-us chama Avraham Avinu — nosso pai Avraham — para uma missão singular: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai...” (Bereshit 12:1).

O Midrash Bereshit Rabbah (39:1) destaca que Avraham foi chamado para “ser raiz de bênção” — ou seja, canal da vontade divina no mundo. Rashi explica que Avraham deveria sair não apenas geograficamente, mas também espiritualmente, rompendo com a cultura idólatra de Ur Kasdim. A promessa de D-us não é apenas pessoal (“farei de ti uma grande nação”), mas universal: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (v. 3).

Essa promessa tem implicações profundas: Israel seria formado como uma nação sacerdotal (cf. Shemot 19:6), uma nação sem rei humano, pois o próprio D-us reinaria sobre eles. O Talmud (Avodah Zarah 2b) comenta que D-us ofereceu a Torá a todas as nações, mas apenas Israel respondeu: “Naasê venishmá” — “Faremos e ouviremos” (Shemot 24:7). Isso mostra a disposição de obedecer antes mesmo de compreender — um sinal da confiança em D-us.

Quando lemos Devarim (Deuteronômio) 4:5-9, vemos que os choqim (estatutos) e mishpatim (juízos) não eram apenas mandamentos para regular a vida de Israel, mas reflexos do caráter de D-us. Como diz a Mishná (Avot 2:1): “Seja meticuloso no cumprimento de um mandamento leve como de um mandamento severo, pois não sabes a recompensa de cada um.” A obediência não era só um dever — era a ferramenta de santificação nacional e testemunho internacional.

O rabino Samson Raphael Hirsch interpreta os mandamentos como “pontes entre o céu e a terra”, onde Israel, ao viver com justiça, serviria como espelho do Reino vindouro. Ellen G. White, de forma notável, afirma que “Israel devia ser um modelo do que D-us faria por todos os povos” (Profetas e Reis, p. 17).

Para nós, judeus que cremos em Yeshua HaMashiach, essa vocação permanece. Yeshua é a plenitude da promessa feita a Avraham, pois Nele todas as famílias da terra são realmente abençoadas (cf. Gálatas 3:8). Mas Ele também nos ensina: “Vós sois a luz do mundo... assim brilhe a vossa luz diante dos homens” (Matityahu 5:14-16). Yeshua não anulou a vocação de Israel, Ele a confirmou e a expandiu. Como está escrito no Talmud (Sanhedrin 98b), “O mundo só permanece por causa do sopro das crianças que estudam Torá.” A obediência à Torá, agora iluminada pela presença do Mashiach, é nosso testemunho vivo.

Portanto, sim — esse princípio se aplica plenamente a nós. Nossa missão como remanescente judaico-messiânico-adventista é manifestar o caráter de D-us através da prática dos mitsvot, da justiça, e do testemunho vivo de que o Reino de D-us já começou a se revelar em Yeshua. Que sejamos um povo sábio e inteligente, para que as nações digam: “Certamente, a presença de D-us está entre eles.”

Yom Shlishi - Terça-Feira

“Rejeitando o Reino de D-us: A Escolha de um Rei Humano e Seus Efeitos Espirituais”

No capítulo 8 de Shmuel Alef (1 Samuel), o povo de Israel comete um dos atos mais simbólicos de rejeição espiritual: pede um rei humano, “como têm todas as nações” (v. 5). Essa solicitação não era apenas política — era teológica. Era uma declaração de que o modelo de liderança divina não era suficiente.

O profeta Shmuel advertiu sobre os efeitos desse sistema: impostos, exércitos, servidão. Mas o povo persistiu. O Talmud (Sanhedrin 20b) debate longamente se o estabelecimento de um rei era uma mitsvá ou uma concessão. Rabi Nehorai, por exemplo, argumenta que o pedido por um rei nasceu da falta de fé. E de fato, como D-us mesmo diz a Shmuel: “Não foi a ti que rejeitaram, mas a Mim, para que Eu não reine sobre eles” (v. 7).

Rashi comenta sobre essa passagem dizendo que o pedido do povo era um insulto ao próprio modelo de D-us, que desejava ser o Rei exclusivo de Israel. Avraham, Yitzchak e Yaakov nunca tiveram um rei humano sobre si. Eles caminharam guiados diretamente por D-us.

A Mishná (Avot 3:2) nos lembra: “Ore pelo bem-estar do governo, pois, sem o medo dele, os homens devorariam uns aos outros vivos.” Ainda assim, os rabinos sempre distinguiram entre um governo justo e o governo ideal: o reinado do próprio D-us.

Em Devarim (Deuteronômio) 17:14-20, D-us antecipa que o povo pediria um rei e, por misericórdia, dá instruções para mitigar os abusos: que o rei não tenha muitos cavalos, nem muitas esposas, nem acumule riquezas — e que copie com sua própria mão o Sefer Torá para estudar todos os dias. Rambam, em Hilchot Melachim (Leis dos Reis), ensina que o papel do rei era “submeter seu coração à Torá, como qualquer outro israelita”. No entanto, poucos reis de Israel viveram à altura disso.

O caso de Davi com Bate-Sheva, ou os muitos reis que “fizeram o que era mau aos olhos de D-us” (cf. Melachim), mostram que até os melhores reis são falhos. O Talmud (Berachot 4a) registra que até Davi reconheceu que seu pecado seria lembrado em cada geração — mostrando que liderança humana sempre carrega imperfeição.

Hoje, não é diferente. O sistema político atual ainda é feito por humanos limitados, pecadores governando pecadores. Mas há esperança — e essa esperança está no Mashiach.

Para nós, judeus que seguimos Yeshua HaMashiach, essa rejeição do reinado divino se reverte com a vinda do Rei justo. Como está escrito em Zacarias 9:9, “Eis que vem a ti o teu Rei, justo e Salvador, humilde, montado sobre um jumento.” Yeshua não apenas cumpre o ideal do rei segundo o coração de D-us — Ele é o reflexo perfeito do caráter divino.

Em Yeshua, não há opressão, não há tributo injusto, não há manipulação. Ele reina com justiça, humildade e verdade. Seu trono é eterno, e Seu governo é paz (cf. Isaías 9:6).

A lição para nós, como comunidade judaico-adventista messiânica, é clara: rejeitar o governo de D-us leva ao sofrimento, mas aceitar o reinado de Yeshua em nossas vidas nos conduz à verdadeira liberdade. Como está escrito: “E o Reino será de D-us” (Ovadiah 1:21). Que possamos ser fiéis ao nosso verdadeiro Rei — o Santo de Israel.

Yom Revii - Quarta-Feira

“O Perigo da Aliança com o Poder Mundano: Reflexões de Israel Antigo à Kehilah de Yeshua”

A história de Israel, conforme revelada nas Escrituras e aprofundada na tradição rabínica, é rica em lições para o povo da Brit Chadashá (Nova Aliança). Quando olhamos para a relação entre D-us e Israel, percebemos que Ele sempre desejou um povo distinto, separado das nações, não apenas em ritos, mas sobretudo em caráter. Isso é reiterado por Yeshua HaMashiach, que afirmou: “Não será assim entre vocês...” (Mattityahu 20:26), rejeitando qualquer forma de liderança baseada na dominação, tal como faziam os gentios.

A Mishná (Avot 1:10) adverte: “Ame o trabalho, odeie o poder e não busque intimidade com os governantes.” Esta frase reflete precisamente a advertência de Yeshua a Seus discípulos, que começavam a aspirar posições de glória e domínio. Ele, o Rei verdadeiro, veio servir e não ser servido — o modelo de liderança divina não é alicerçado em poder político, mas em humildade, serviço e justiça.

O Talmud Bavli (Sanhedrin 20b) debate se o estabelecimento de um rei foi um mandamento ou uma concessão diante do pecado do povo. Rabi Yehudá diz que era uma mitsvá condicional, mas os rabinos como Rabi Nehorai afirmam que o desejo do povo foi uma rejeição direta da realeza divina. Assim também ocorreu no contexto da igreja após o século IV, quando, ao invés de permanecer uma comunidade pura e apartada, muitos se encantaram com o poder imperial.

O historiador Eusébio registra com entusiasmo a ascensão de Constantino e o fim da perseguição, mas o que parecia uma bênção revelou-se uma armadilha: a união entre império e fé abriu caminho para abusos, perseguições internas e corrupção espiritual. O modelo da liderança serva, estabelecido por Yeshua, foi substituído por uma estrutura hierárquica similar à de Roma pagã. O Rambam, em Hilchot Teshuvá 3:6, alerta que uma das maiores formas de afastamento é “trocar a verdade pelo status e pela conveniência.”

Assim como Israel antigo sacrificou sua singularidade ao querer se igualar às nações, a igreja institucionalizada perdeu sua pureza ao buscar segurança nos braços do Estado. O povo que deveria ser luz entre os gentios (Isaías 49:6) tornou-se parte das trevas do poder temporal. Muitos dos que permaneceram fiéis — tanto judeus quanto cristãos primitivos — foram perseguidos, marginalizados e até mortos. Isso ecoa a crítica profética de Yirmiyahu (Jeremias), que denunciava líderes que “curam superficialmente a ferida do Meu povo” (Jer 6:14), enquanto se curvavam ao sistema corrupto.

Na era moderna, essa lição continua relevante para nós, como judeus messiânicos e adventistas. Há sempre a tentação de buscar aprovação política, relevância cultural ou influência institucional. Mas o Reino de D-us não é edificado com base em alianças com o poder humano — ele cresce em corações humildes, guiados pela Torá, pela Palavra profética e pelo exemplo de Yeshua.

Como nos lembra a Mishná (Avot 4:1): “Quem é poderoso? Aquele que conquista sua inclinação.” Nossa missão como Am Segulá (povo peculiar) não é dominar, mas servir. Não é competir com o mundo, mas ser separado dele, como um sacerdócio santo. Que jamais percamos de vista o verdadeiro modelo de liderança e santidade que D-us revelou — e que em Yeshua HaMashiach foi plenamente manifestado.

Yom Chamishi - Quinta-Feira

"Or Lagoyim: O Propósito Redentor de Israel e da Kehiláh de Yeshua"

Desde Avraham Avinu, a vocação de Israel sempre foi redentora e universal. D-us disse: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Bereshit/Gênesis 12:3). Israel não foi escolhido por superioridade, mas por missão — uma missão de “ser luz para as nações” (Yeshayahu/Isaías 49:6), como também afirmam as passagens de Números 14:17-21, Isaías 42:6 e 60:3.

A Mishná (Avot 2:12) nos lembra: “Sejas zeloso no cumprimento de um mandamento leve como de um pesado, pois não sabes qual é a recompensa de cada um.” O povo de Israel foi chamado a viver em fidelidade à Torá, não para se gloriar nela, mas para que por meio da prática dos mitsvot, o mundo pudesse contemplar o caráter de D-us.

Rashi comenta sobre Isaías 42:6 dizendo que “a aliança com o povo” é uma designação do seu papel sacerdotal entre as nações, mediando conhecimento e retidão. E de fato, isso ecoa na descrição do povo remanescente no livro de Hitgalut (Apocalipse), que “guardam os mandamentos de D-us e têm o testemunho de Yeshua” (Ap 14:12). A fidelidade à Torá e o testemunho do Mashiach se unem como duas faces da mesma vocação: revelar a glória de D-us ao mundo.

Entretanto, o que ocorreu no Tanach e se repete na história da Kehiláh (igreja) é um padrão de desvio: ao invés de atrair as nações por meio da justiça e da paz, Israel muitas vezes se tornou semelhante às nações, adotando seus caminhos. O Talmud Bavli (Yoma 9b) declara que o segundo Beit Hamikdash (Templo) foi destruído não por idolatria ou assassinato, mas por sinat chinam — ódio gratuito entre os próprios filhos de Israel. Isso nos adverte: um povo que não revela o caráter de D-us entre si, dificilmente poderá transmiti-lo ao mundo.

O exemplo supremo do caráter de D-us foi revelado em Yeshua HaMashiach, o “Or Ha’olam” — a Luz do Mundo (cf. Yochanan/João 8:12). Ele não veio para condenar, mas para redimir (Jo 3:17). Sua vida foi uma manifestação da Torá viva. Como o Rambam ensina em Hilchot De'ot 1:6, o ser humano deve se tornar um reflexo das midot (atributos) do Criador — e isso foi plenamente cumprido em Yeshua.

Hoje, a Kehiláh messiânica — composta por judeus e gentios redimidos — herda esse chamado. O eco de Apocalipse 18:1-4, o chamado para sair da Bavel, é urgente. A Babilônia espiritual representa todo sistema religioso e político que obscurece a glória de D-us, substituindo a fidelidade por tradição humana e poder mundano. Como comunidade judaico-adventista, não fomos chamados para nos misturar com as estruturas de poder religioso, mas para chamar o povo de D-us de volta à pureza da Palavra — à Torá e ao testemunho de Yeshua.

Como isso ocorre? Vivendo de modo distinto. Como ensina o Talmud (Shabat 88a): “Quando Israel disse ‘Naasê venishmá’ — ‘Faremos e ouviremos’, uma voz celestial declarou: ‘Quem revelou esse segredo a Meus filhos?’” A obediência precede a compreensão plena — viver os mandamentos com fé e fidelidade é, por si só, uma pregação viva. O mundo verá e se voltará.

Que sejamos essa luz. Que, como a kehiláh descrita em Apocalipse 14, sejamos reconhecidos por nossa lealdade aos mandamentos de D-us, por nosso testemunho sobre Yeshua, e por nossa recusa em nos conformar aos sistemas da Babilônia. Como judeus que reconhecem o Mashiach, nossa missão é dupla: restaurar as raízes e anunciar o fruto — um reino de justiça, misericórdia e verdade.

Yom Shishi - Sexta-Feira

"Saindo de Bavel: A Redenção pela Fidelidade e Simplicidade em Yeshua"

As palavras dos profetas Yeshayahu (Isaías 44:24–28; 45:1–13) são um chamado forte e claro: D-us é o único Criador, Redentor e Restaurador. Ao levantar Ciro (Koresh), um rei não-judeu, para libertar Israel do exílio babilônico, D-us mostrou que Sua soberania ultrapassa fronteiras, etnias e instituições humanas. Ciro foi chamado “Meu pastor” e “Meu ungido” — expressões raras — usadas aqui para descrever alguém que, mesmo não sendo parte da aliança direta, foi instrumento do plano redentor de D-us.

O Talmud Bavli (Meguilá 12a) declara: “D-us prepara a cura antes mesmo da ferida.” E isso vemos na história de Ciro — enquanto Israel sofria as consequências da infidelidade, D-us já preparava um libertador fora de Sião. Isso nos ensina que D-us vê o coração e age com misericórdia universal, embora Seu plano redentor esteja centralizado em Israel e no Mashiach.

A Mishná (Avot 4:1) ensina: “Quem é sábio? Aquele que aprende de todos.” Israel, mesmo em cativeiro, teve de reconhecer que D-us poderia usar instrumentos improváveis para cumprir Seu propósito. Se o rei de Bavel (Babilônia), como Nabucodonosor, foi levado ao arrependimento (Daniel 4), quanto mais nós devemos permitir que D-us transforme nosso coração!

Hoje, como judeus que seguem Yeshua HaMashiach, precisamos olhar para o passado com discernimento profético. Ellen G. White escreve sobre a apostasia crescente dentro da igreja, que deixou a humildade de Mashiach e dos shlichim (apóstolos) para adotar o esplendor dos sistemas pagãos. Isso ecoa o que os rabinos chamariam de hester panim — o “esconder do rosto” de D-us, quando Seu povo deixa de cumprir seu papel no mundo.

Rambam (Hilchot Teshuvá 7:6) diz que o verdadeiro arrependimento não é apenas deixar o pecado, mas também transformar o coração de modo que o desejo de pecar desapareça. E é isso que significa sair de Bavel. Não basta estar fisicamente fora dela — é necessário que Bavel saia de dentro de nós. Perguntamo-nos: Quanto de Bavel ainda carregamos?

O Galut (exílio) não é apenas geográfico. É espiritual, é cultural. Estamos cercados por um mundo que valoriza o orgulho, o poder e a aparência — tudo o que Yeshua rejeitou com Sua vida de humildade e serviço. A mensagem das três malachim (anjos) de Hitgalut (Apocalipse 14) e o chamado em Apocalipse 18:4 — “Sai dela, povo Meu” — é um apelo para retornarmos à pureza da fé, à simplicidade da Torá vivida no Mashiach, e ao chamado original de Israel: ser “or lagoyim” — luz para as nações (Isaías 49:6).

Sim, é possível mudar. Mas não com a força do homem. O profeta diz: “Eu sou o Eterno que te formei desde o ventre, e Eu farei toda a obra” (Is 44:24). Yeshua é a expressão máxima dessa obra, pois Nele vemos a Torá vivida com perfeição, o templo verdadeiro, a restauração de Israel e o chamado às nações.

Portanto, que nosso coração não se iluda com a aparência de religiosidade, nem com estruturas humanas que lembram mais a Bavel do que a Yerushaláyim. Que sejamos guiados pelo Ruach HaKodesh (Espírito Santo), vivendo como comunidade judaico-adventista fiel à Torá, ao testemunho de Yeshua e à missão profética de restaurar todas as coisas.




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Escrito por: Mateus Henrique Corrêa
















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