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As Dez Palavras


Teshuvá תשובה


ב''ה

As Dez Palavras 

Escrito por: Mateus Corrêa

Os Dez Mandamentos: O Eterno Testemunho da Aliança

Desde tempos imemoriais, os Dez Mandamentos têm sido a base da moral e da ética para milhões de pessoas ao redor do mundo. Mas o que são exatamente essas leis? Qual sua origem? Como foram entregues? E qual é seu significado na cultura judaica e na história da humanidade?




No Monte Sinai, um lugar sagrado envolto em mistério e majestade, D'us falou diretamente ao povo de Israel. Sua voz ressoou como trovões, acompanhada de relâmpagos e uma trombeta sobrenatural. O evento foi tão grandioso que a tradição judaica ensina que D'us não falou apenas em uma língua, mas sim em setenta vozes, para que todas as nações da Terra pudessem compreender Suas palavras (Midrash Shemot Rabbah 5:9, Talmud Shabat 88b). A Palavra para se referir a trovões no texto é "קולות" (Kolot) que também significa vozes! Portanto, alguns rabinos chegam à conclusão de que quando o texto diz que o povo viu os trovões (Êxodo 20:18-19) não se refere a ver um trovão (já que trovão é somente o som do relâmpago e sons não podem ser vistos), mas sim que o povo presenciou a proclamação dos Dez Mandamentos no Sinai pelo próprio D'us em 70 vozes.

 Essa proclamação universal simbolizava que a Torá não era apenas para Israel, mas sim para toda a humanidade, convidando cada povo a conhecer a vontade do Criador.

Midrash Shemot Rabbah 5:9 explica que quando D'us deu a Torá, Sua voz se dividiu em 70 línguas, correspondendo aos 70 povos do mundo (baseados na Tabela das Nações de Gênesis 10).

Outra referência está no Talmud (Shabat 88b), onde é dito que a voz de D'us no Sinai era tão poderosa que se dividia em múltiplas vozes e era ouvida por todas as nações, de modo que ninguém poderia alegar não ter recebido a mensagem.

Midrash Tanjuma (Parashá Noach, 3) reforça essa ideia, explicando que D'us deu a Torá não apenas para Israel, mas para toda a humanidade, e por isso ela foi proclamada de maneira compreensível para todos os povos existentes na época.

Ou seja, esses mandamentos, não serviriam somente para o povo de Israel, mas para os 70 povos da época, ou seja, todo o mundo!

A mesma proposta é vista na Brit Chadashá (Novo Testamento), no livro de Apocalipse, onde diz que Yohanan (João) ouviu a voz como de muitas águas: 


"E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões [...]" 

-Apocalipse 19:6


E águas também é um símbolo de povos:


"Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas [...]"

-Apocalipse 17:15


As Tábuas de Safira: Fragmentos do Céu

As tábuas dos Dez Mandamentos não foram escritas em pedra comum, mas em safira celestial, retirada da base do próprio trono de D'us. Essa afirmação encontra suporte na Torá, onde se descreve que, durante a aliança no Sinai, os anciãos de Israel viram um pavimento de safira sob os pés de D'us (Êxodo 24:10). O Midrash ensina que as tábuas foram feitas desse mesmo material, representando a pureza e a eternidade da Lei, sendo a representação física do próprio caráter de D'us, a base de Seu reino.

Outro texto que reforça a hipótese é o texto de Ezequiel 10:1

"Depois olhei, e eis que no firmamento, que estava por cima da cabeça dos querubins, apareceu sobre eles uma como pedra de safira, semelhante a forma de um trono."


A sabedoria judaica ainda nos revela que as letras gravadas nas tábuas eram milagrosas: eram entalhadas de lado a lado, e os caracteres hebraicos permaneciam suspensos no ar (Talmud, Shabat 104a). Esse detalhe reforça a ideia de que a Lei não era uma criação humana, mas algo divinamente concedido.

As Sete Subidas de Moisés ao Monte Sinai

O Monte Sinai foi palco de sete subidas de Moisés, cada uma com um propósito específico:

  1. O Chamado – D'us anuncia a aliança e ordena que o povo se purifique (Êxodo 19:3-7).
  2. A Preparação – Moisés recebe instruções para que Israel se prepare para a manifestação divina (Êxodo 19:8-14).
  3. A Advertência – D'us adverte que ninguém deveria tocar no monte devido à Sua santidade (Êxodo 19:20-25).
  4. A Proclamação dos Dez Mandamentos – A voz de D'us proclama as palavras da aliança para todo o povo (Êxodo 20:1-21).
  5. A Entrega das Tábuas – Moisés sobe para receber a primeira versão das tábuas, passando 40 dias e 40 noites no monte (Êxodo 24:9-18).
  6. A Intercessão – Após a quebra das primeiras tábuas devido ao pecado do bezerro de ouro, Moisés sobe novamente para interceder pelo povo (Êxodo 32:31-35).
  7. A Renovação da Aliança – Moisés sobe pela última vez, recebe as segundas tábuas, e desce com o rosto iluminado pela glória divina (Êxodo 34:1-29).

Os Dez Mandamentos: O Código da Vida

Os Dez Mandamentos, conforme dados por D'us, são:

1ª Tábua:

  • 1º- Eu sou o Senhor, teu D'us, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão.
  • 2º- Não terás outros deuses diante de Mim. 

    Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. 

    Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. 

    E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.

  • 3º- Não tomarás o Nome do Senhor teu D'us em vão, pois o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu santo nome em vão. 
  • 4º- Lembra-te do Shabat para santificá-lo. 

     Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. 

    Mas o sétimo dia é o shabat do Senhor teu D'us; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. 

    Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do shabat, e o santificou.

2ª Tábua
  • 5º- Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu D'us te dá
  • 6º- Não cometerás assassinato. 
  • 7º- Não cometerás adultério.
  • 8º- Não furtarás/roubarás.
  • 9º- Não darás falso testemunho contra o teu próximo.
  • 10º- Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.

Esses mandamentos são descritos em Shemot/Êxodo 20:2-17 e  Devarim/Deuteronômio 5:6-21

A Alteração dos Dez Mandamentos

Com o passar dos séculos, o catecismo alterou a estrutura dos Dez Mandamentos. O segundo mandamento, que proíbe a idolatria, foi retirado, permitindo assim a veneração de imagens. Para manter a contagem em dez, o décimo mandamento foi dividido em dois, separando a proibição da cobiça em duas partes distintas (catecismo católico). Além disso, o quarto mandamento, que ordena a guarda do Shabat, foi alterado para a guarda do domingo, contrariando a ordem expressa de D'us.




Observação: Há uma diferença também na divisão dos dois primeiros mandamentos no judaísmo e no cristianismo protestante, já que os protestantes não consideram o verso: "Eu sou o Senhor, teu D'us, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" como um mandamento, mas como um prelúdio aos dez. E para o judaísmo os mandamentos: "Não terás outros deuses diante de mim" e  "Não farás para ti imagens de escultura [...]", que são vistos pelos protestantes como dois mandamentos distintos, são vistos pelo judaísmo como duas partes do mesmo mandamento. 
Ambas visões não alteram o texto escrito e nem destroem as visões dos dez mandamentos, diferente do que acontece com o catecismo. 

A mudança dos Mandamentos foi algo previsto nas visões de Daniel (Dn 7:25)*

Os 613 Mandamentos e seu Resumo nos Dez

A tradição rabínica ensina que os 613 mandamentos da Torá podem ser resumidos nos Dez Mandamentos. Eles são a essência de todas as mitsvot, abrangendo os princípios fundamentais que regem a relação do homem com D'us (1ª tábua com 4 mandamentos) e com seu próximo (2ª tábua com 6 mandamentos).

O total de mandamentos na Torá são 613 que são resumidos em 10 (613=6+1+3=10)

 Yeshua HaMashiach confirmou essa ideia ao resumir a Torá em dois mandamentos, relacionados às duas tábuas:

  • 1º- Amarás o Senhor, teu D'us, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. 
  • 2º- Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mateus 22:37-39)

O Tzitzit Azul e a Memória do Trono Celestial

Em Bamidbar/Números 15:38-39 o Eterno ordena ao homens de seu povo que coloquem "franjas" sobre os 4 cantos de suas vestes, para que se lembrassem dos mandamentos e das ordenações do Senhor, para que assim estivessem sempre atentos em seus caminhos, e ao caminharem, e olharem para baixo, se lembrassem do Eterno. 
Essa seria uma forma de todos os judeus relembrarem do trono de D'us e também das tábuas da Lei, relembrando sempre seu compromisso com D'us e com sua Lei. 
A palavra tzitzit em hebraico "ציצית" em hebraico tem o valor numérico de 600, pois se somarmos o valor de cada letra, chegaremos a esse número. 
Além disso ele possui 5 nós que representam os 5 livros da Torá, e possui 7 fios brancos que representam os 7 dias da criação e também é um número divino. E além desses 7 existe esse fio azul chamado "Techelet" (תכלת) e esse azul nos remete à safira do trono de D'us e das tábuas da Lei, lembrando-nos da aliança eterna. O uso do tzitzit é um lembrete constante dos mandamentos divinos, reforçando a conexão entre o povo de Israel e a Torá.

Se somarmos o valor numérico da palavra tzitzit (ציצית) que é igual 600 mais os 5 nós que representam os livros da Torá, mais os 8 fios que formam o tzitzit obteremos o seguinte cálculo e o seguinte resultado:
600+5+8=613 

E esse número (613) representa o número de mandamentos presentes na Torá.   


Conclusão

Os Dez Mandamentos não são meras leis, mas sim um pacto eterno entre D'us e Seu povo. Sua proclamação em setenta línguas simboliza a universalidade da mensagem divina. Escrito em safira, proveniente do trono celestial, seu brilho resplandece através dos séculos. E, mesmo diante das tentativas de alteração, sua verdade permanece intacta para aqueles que desejam viver segundo a vontade do Eterno.

Que possamos recordar, obedecer e transmitir essa aliança sagrada, para que a luz da Torá ilumine o mundo, guiando-nos para uma vida de retidão e santidade.




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Escrito por: Mateus Corrêa







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